Eu só vendo a vista (Raphael Fonseca & Pablo Leon de La Barra)
Fazendo par com a programação do salão principal, as novas equipes da curadoria e direção enxergam o espaço da Varanda do museu como importante para a experimentação nos campos da instalação e do site specific. Diferentemente de ser pensado como um espaço expositivo que encara o entorno como um cubo branco – algo difícil devido à construção proposta por Oscar Niemeyer -, pensamos que nessa área podem ser desenvolvidos projetos que, após um processo de pesquisa, pensam de modo crítico a relação entre museu, paisagem e corpo humano.
Com esse interesse em mente, o artista Marcos Chaves foi convidado para realizar a primeira dessa série de intervenções nesse sinuoso espaço. Com uma carreira de quase três décadas, sua pesquisa como artista visual se dá por mídias tão diferentes como a fotografia, a escultura, o vídeo e a instalação. Constante à sua produção, porém, há o interesse pela relação entre imagem e texto, geralmente através de uma ótica em que o humor é bem-vindo.
Nesse projeto, Marcos Chaves dá prosseguimento à experimentação de vinte anos que faz a partir de uma simples frase: “Eu só vendo a vista”. Um jogo de significados possíveis é entregue ao público que pode ler tanto uma sugestão do voraz mercado imobiliário no estado do Rio de Janeiro, quanto ao ato de se “vendar” (tapar) a paisagem ao redor. Além disso, essa “vista” se refere a uma forma de pagamento ou à visão panorâmica criada pelo encontro entre a natureza e a herança da arquitetura modernista?
O público tem à sua frente a primeira espacialização arquitetônica criada pelo artista a partir dessa frase. Colocada na varanda, um dos lugares preferidos dos visitantes para o ato fotográfico comum ao turismo e ao prazer dado pelo lazer, a frase de Marcos Chaves informa e deforma; esconde-se parte da paisagem para que, justamente, se dê atenção especial àquilo que está por trás desse bloqueio: a Baía de Guanabara e aquele mesmo Pão de Açúcar que aparece desde a primeira versão fotográfica do trabalho, também aqui exposta.
Nas fotografias, “o Rio de Janeiro continua lindo”; no dia-a-dia, sabemos bem como essas águas e montanhas estão mais próximas da “cidade purgatório da beleza e do caos”. Para seguirmos em frente, só mesmo tapando a vista para umas coisas e fruindo a beleza temporária de outras. É sobre esse movimento de dúvida e tensão entre “olhar” e “ver” que o trabalho de Marcos Chaves versa. Fica o convite para a contemplação e reflexão por parte do público do MAC Niterói.
Raphael Fonseca e Pablo Leon de La Barra