A dobra no horizonte
Toda curadoria surge de uma vontade de reunir e também de recortar, e orecorte desta exposição, começa a se delinear no horizonte familiar aos artistas aqui reunidos. Nascidos no Rio de Janeiro, frequentadores de suas praias – palcos de ideias, trocas de conhecimentos e lazer – durante o final dos anos 1980 e no decorrer dos anos 90, e que continuam se encontrando nessas areias, na nossa praia.
À época dos primeiros encontros, artistas jovens, compartilhávamos uma certa distância em relação à retomada da pintura e da figuração, características marcantes da produção artística do início dos anos 1980 no eixo Rio-São Paulo. Essa cena se desenvolveu no circuito institucional, ambiente onde convergiam experimentações e pensamento crítico. sem vínculo com mercado de arte, ainda restrito e incipiente naquele momento..
Muitos desses artistas participaram do Projeto Macunaíma, vinculado à Funarte, da exposição Escultura Carioca, realizada no Paço Imperial e do programa de exposições individuais na galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, para mencionar alguns desses espaços institucionais.
Vários trabalhos presentes nesta coletiva, alguns deles exibidos pela primeira vez nos espaços citados acima, raramente encontrados na internet. Situação impensável, talvez, para artistas mais jovens hoje, acostumados desde cedo à superexposição das redes. Esses artistas, vale lembrar, viveram a transição do analógico para o digital no início da fase adulta e logo após a virada do milênio.
A escolha dos trabalhos provém, sobretudo, da memória afetiva que trago como participante e testemunha deste zeitgeist. Estes trabalhos, para mim e acredito para o grupo, nos inspiraram na época e continuam nos inspirando. Reuni-los nesta exposição, evoca novos sentidos de um horizonte uma vez partilhado, além de concentrar o registro da produção destes artistas cariocas naquela época.
Há uma linha sensível, contudo, empunhada e reelaborada por muitas mãos, que logo se dá a ver. Não à toa os trabalhos desta mostra são afluentes de uma materialidade que incorpora a linha como gesto de expansão, a expansão de horizontes, singulares e múltiplos, abertos ao porvir. Estamos, portanto, diante de horizontes estendidos nos quais o afeto é a dobra da linha. A dobra que nos une.
Marcos Chaves