Amoroso (Bernardo Mosqueira)
(ao meu amor)
Marcos Chaves mora em Santa Teresa desde seu nascimento em 1961. Por isso, esse bairro foi o cenário principal para encontros fortuitos e para as consecutivas relações apaixonadas e atentas, muito diversas e perpassadas por graus diferentes de humor e drama. Nesse lugar, teve de aprender a conviver simultaneamente com a certeza da efemeridade e com o desejo da duração. Poderíamos, é claro, estar tratando de relações amorosas, mas estamos descrevendo sua prática artística que, nessa região da cidade do Rio de Janeiro, encontrou inigualável conjuntura para a descoberta de situações raras formadas por cenas e ângulos inusitados.
A poética do trabalho de Marcos Chaves, como a de parte de sua geração, está ligada à transformação de vestígios banais da urbanidade através de operações em sua dimensão aurática, encantando o que seria ordinário, produzindo singulares ícones de um olhar amoroso que opta constantemente por experimentar a vitalidade possível das coisas ao invés de apenas sobreviver inerte aos eventos cotidianos. O conjunto de sua obra cria uma espécie de pedagogia da percepção, de modo que, após contato com sua produção de maneira mais extensa, conquistamos uma nova forma de atenção, uma maneira singular de direcionamento, edição e interpretação do olhar.
A participação de Marcos Chaves no projeto “Os amigos da gravura” acontece no mesmo ano em que ele deixará Santa Teresa pelo Centro, trocando as ruas sinuosas ainda cheias de surpresas pela paisagem do Pão de Açúcar, também muito presente e importante em seu trabalho. Da varanda do espaço onde acontece a exposição que acompanha o lançamento da obra “AMOROSO”, é possível ver o apartamento de Marcos Chaves em Santa Teresa. Essa gravura, que mostra uma tampa metálica localizada na calçada da Rua Laurinda Santos Lobo, além de ser uma justa homenagem ao bairro onde se localiza o Museu da Chácara do Céu, é também um espelho para o olhar de Marcos e uma assinatura em jogo tautológico após esses 55 anos de diária relação amorosa.
Bernardo Mosqueira, Maio 2016.