Um/um (Ligia Canongia)
A imagem apresenta dois torsos masculinos, impressos em lâminas de acrílico suspensas, com pequena passagem entre elas. Assim situados, e sob efeito de espelhamento, os corpos funcionam como o negativo um do outro. Entretanto, cada imagem não é apenas o espelho ou o negativo da outra, mas são complementares. Apenas o olhar do observador, contudo, pode unir as duas imagens, e imaginar a unidade que seria resultado dessa soma complementar.
O corte geométrico – um círculo, que é efetuado sobre os pêlos desses corpos, remonta à idéia de ‘ordem’ subjacente a nosso passado construtivo, e tenta imprimir uma figura regular em um meio caótico. Ao mesmo tempo, a geometria do corte faz desses corpos concretos seres estranhos, jogando-os em território poético e abstrato. Essa duplicidade – negativo/positivo, concreto/abstrato, esquerda/direita – é praticada de forma a se auto-suprimir no momento mesmo em que se instala, na medida em que os espectadores fazem a fusão das imagens no imaginário, através do deslocamento rápido de seu olhar pela passagem entre as lâminas. É como se cada ‘furo’ no corpo correspondesse a um olho do espectador, e a ‘visão’ só se desse com a união imediata e irreversível desses dois olhos, ou desses dois furos.