Marcos Chaves, a história como [des]esperança (Paulo Herkenhoff)
A historiografia imediata, a crítica contundente do
presente, a crença no futuro das mudanças que se
espera que venham a ocorrer já movimentam a arte
em torno do ocorrido desde 1 de janeiro de 2019. No
mastro do prédio do Museu de Arte do Rio (MAR) foi
içada uma bandeira verde e rosa, as cores da bandeira
da escola de samba da Mangueira, que tem em um
lado as palavras “Vai passar” e, no outro, um ponto
de interrogação ameaçador. Vai passar (2019), a
bandeira de Marcos Chaves é ambivalente, aos confiantes
num futuro melhor, menos entrópico que o
presente, é uma afirmação: Vai passar. Ponto. Para
os céticos, é pura dúvida: o mal “vai passar?”. “O choro
pode durar uma noite, mas a alegria virá ao amanhecer”
(Salmo 30, versículo 6) – é bíblico e virou um provérbio
da língua portuguesa: “Não há mal que sempre
dure, nem bem que se não acabe.” A bandeira de Marcos
Chaves evoca otimista e reticente a letra de Chico
Buarque de Hollanda: “Vai passar / nessa avenida um
samba popular” e a memória de seu tempo vivido. O
compositor escreveu para seu tempo uma música que
se atualiza em qualquer presente:
“Num tempo / Página infeliz da nossa história / Passagem
desbotada na memória / Das nossas novas
gerações / Dormia / A nossa pátria mãe tão distraída
/ Sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas
transações”.
Marcos Chaves é um cronista da vida cotidiana do
Rio de Janeiro, com um olhar sobre sua paisagem
cultural, junção entre natureza e obra do homem, os
modos culturais de viver a gentileza urbana, suas dores
e as soluções dos sem tetos, na casa precária do
homem da vida nua. O artista é um autêntico carioca
porque amoroso e crítico com relação aos encantos e
mazelas sociais da cidade amada.