A confusão do esclarecimento (Paulo Herkenhoff)
A inveja de Magritte. O inconsciente numérico. Paisagem florestada. A pane do Número. A falácia da conjunção dos coletivos. Multiplicações insulares – todo homem não é uma ilha, mas um arquipélago, na imagem multiplicada do mesmo em muitos. 7 ilhas, sempre mesmo outra em si. 7, a conta da mentira. O bando de um macaco é um macaco que é um bando que é um macaco que é um bando. 4 monos é 4 vezes a solidão de 1. Estilhaços linguísticos: a coletivização do fragmento. Toda adição de imagem é erro.
Ornitologia entre a terra e água. Tudo conspira para o (des/re) maravilhamento. Mar. Ave. Ilha.
Brutalismo carioca. De Nise a Lygias, via HO, neoconcretismo: subjetivação na objetividade – corpo, loucura, fenomenologia dos sentidos. Calçadas SoLewittianas destroçadas. A câmera GEOFotoMÉTRICA. Chaves do neoconcreto armado: (des)consertos, puxadinhos irônicos, arremedos malfeitos – emblema perverso do racionalismo, o mito moderno da malha é só um sorriso careado.
Deriva baudelaireana. Rio, Gaudí, Manhattan, Kyoto. Delirium ambulatorium HÓtico de Manhattanbrutalist: paisagem deambulatória diante do impávido Pão de Açúcar – só quero a vista. Sugar-loafers – joão-carioca-do-Rio, o cinematógrafo urbano, Fragmentos de arquitetura sem teto, abrigos flâneurs.
Grande sertão: veredas cariocas. As chaves do ambivalente: amarécomplexo amarésimples – mots valises, amálgama de palavras em plurivalência significante. Como a vida em Guimarães Rosa, viver na Maré e amar é simples e complexo. Só vendo a vista – talvez o mais político em sua obra, aborda o colonialismo interno no país e o Rio em sua resistência ao capital imobiliário, à desmontagem de sua economia e ao incomparável carioca. Só vendo a vista, não o jeito. Condiciono à vista, toda a lógica das sensações diante do Maravilhoso, da engenharia que esculpe o destino natural, e da sempre presente da miséria, mas no Rio, favelas não pegam fogo.
Só-Rio. Zizania cordial, barafunda plástica, harmonias contraditórias, mafuá arquitetônico, muvuca saussureana, conflação significante, trocadilhos visuais, pars pro toto (eu e minha praia), bagunça semiótica, diversidade maravilhosa, vuco-vuco conceitual, Merzfavelar, metonímia do Brasil – só a Confusão nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do Rio. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz cariocas.
Taxonomia. MC é da classe dos anartistas e desarquitetos, como HO, Antonio Manuel, Jonathas de Andrade e André Komatsu.
Buracos de MC são monumentinhos à solidariedade jeitosinha brasileira. pós-fotoruas de HO. Na urbe desassossegada, o corpus carioca de MC é o corps vécu merleau-pontyano.
Paulo Herkenhoff