Laughing container

2005
   

Instalação comissionada e apresentada na exposição “On Leaving and Arriving”, em Cardiff, País de Gales, que marcou o centenário da cidade. O porto teve grande relevância durante a era vitoriana (século XIX), quando era muito usado para escoar carvão, o combustível fóssil do momento. Com o declínio das exportações de carvão, uma vez que o petróleo entra no circuito internacional, o porto perde força. A exposição, por conseguinte, fundamenta-se neste passado recente para prospectar outros futuros e, com esse propósito, convida artistas de cidades portuárias para utilizar contêineres espalhados pela cidade como espaços expositivos. Nos contêineres, a princípio, seriam exibidos vídeos. Contudo, ao observar a dinâmica de Cardiff, Marcos Chaves decide negociar um outro uso do espaço com a curadoria da mostra. Traz consigo o áudio da instalação Morrendo de rir (2002) e propõe reproduzi-lo em alto-falantes instalados dentro de um contêiner fechado, transformando-o numa escultura sonora. O áudio contém gargalhadas das mais diversas em termos de intensidade, duração e timbre. Instalado numa rua de pedestres, afinal, o contêiner que ri entrou em contato com o público. Num desdobramento inesperado, comerciários da região começaram a se reunir em volta da peça durante os curtos intervalos de suas funções. A atitude dos subordinados, que interagiam cada vez mais com a escultura, não tardou a deixar insatisfeitos os comerciantes que reclamaram publicamente, nos jornais, da distração que o objeto trazia aos seus funcionários. Deslocamentos são hábeis em provocar tensões, até porque, sem elas, não se sai do lugar. Isto posto, avançando no espaço, ao negar o uso do interior do contêiner como um mero cubo branco, no caso, um retângulo branco, o artista joga toda a interioridade do sentido para fora dele, numa reconversão paradoxal em que o dentro habita o fora e vice-versa. Não há dualidade nestas superfícies, assim como não importa se as gargalhadas que ouvimos são de felicidade ou de desespero. O ferro, então, passa a ser tão ambíguo quanto uma gargalhada e uma gargalhada passa a ser tão dúctil quanto o ferro. A ambiguidade reside em pelo menos duas vias, estranhas entre si, é verdade, porém sempre coabitáveis; nunca saberemos, ao certo, se estamos diante de um objeto animado ou se testemunhamos, de fora, um encontro animado. Na dúvida, pergunte ao espectador, é ele quem ri por último.

Yan Braz

Esbjerg Art Museum
Largo do Machado, Rio de Janeiro. Brasil. (2008)
Vantaa Art Museum. Helsinki, Finlândia. (2008)
Volta Art Fair. Basel, Suíça. (2008)
Zeppelin University . Friedrichshafen, Alemanha. (2009)