Laughing container
Instalação comissionada e apresentada na exposição “On Leaving and Arriving”, em Cardiff, País de Gales, que marcou o centenário da cidade. O porto teve grande relevância durante a era vitoriana (século XIX), quando era muito usado para escoar carvão, o combustível fóssil do momento. Com o declínio das exportações de carvão, uma vez que o petróleo entra no circuito internacional, o porto perde força. A exposição, por conseguinte, fundamenta-se neste passado recente para prospectar outros futuros e, com esse propósito, convida artistas de cidades portuárias para utilizar contêineres espalhados pela cidade como espaços expositivos. Nos contêineres, a princípio, seriam exibidos vídeos. Contudo, ao observar a dinâmica de Cardiff, Marcos Chaves decide negociar um outro uso do espaço com a curadoria da mostra. Traz consigo o áudio da instalação Morrendo de rir (2002) e propõe reproduzi-lo em alto-falantes instalados dentro de um contêiner fechado, transformando-o numa escultura sonora. O áudio contém gargalhadas das mais diversas em termos de intensidade, duração e timbre. Instalado numa rua de pedestres, afinal, o contêiner que ri entrou em contato com o público. Num desdobramento inesperado, comerciários da região começaram a se reunir em volta da peça durante os curtos intervalos de suas funções. A atitude dos subordinados, que interagiam cada vez mais com a escultura, não tardou a deixar insatisfeitos os comerciantes que reclamaram publicamente, nos jornais, da distração que o objeto trazia aos seus funcionários. Deslocamentos são hábeis em provocar tensões, até porque, sem elas, não se sai do lugar. Isto posto, avançando no espaço, ao negar o uso do interior do contêiner como um mero cubo branco, no caso, um retângulo branco, o artista joga toda a interioridade do sentido para fora dele, numa reconversão paradoxal em que o dentro habita o fora e vice-versa. Não há dualidade nestas superfícies, assim como não importa se as gargalhadas que ouvimos são de felicidade ou de desespero. O ferro, então, passa a ser tão ambíguo quanto uma gargalhada e uma gargalhada passa a ser tão dúctil quanto o ferro. A ambiguidade reside em pelo menos duas vias, estranhas entre si, é verdade, porém sempre coabitáveis; nunca saberemos, ao certo, se estamos diante de um objeto animado ou se testemunhamos, de fora, um encontro animado. Na dúvida, pergunte ao espectador, é ele quem ri por último.
Yan Braz