Come into the (w)hole

2002
 

Marcos Chaves e o falar incessante.

Na obra de Marcos Chaves formalizada na expressão COME INTO THE (W)HOLE, o artista estabelece um jogo de significantes e significações. Este jogo, de aparente simplicidade mas que se revestirá de enorme complexidade, vai originar um deslocamento de sentido, e é este que produz uma recontextualização de poderoso efeito poético.

Desde logo existe a irreconciliável tensão entre os significantes HOLE (Buraco) e WHOLE (Completude). Numa leitura temos o Buraco, que é um dos conceitos-chave da Psicanálise; o Buraco enquanto simbolização do espaço vazio inultrapassável na relação dual entre o Eu e o Outro; o buraco enquanto expressão simbólica do lugar-nenhum, abismo perante a angústia da morte. Numa outra leitura — que é a mesma! — surge-nos a Completude, um conceito (estado, devir) que não existe para a Psicanálise e funciona, na obra, em relação especular com o Buraco, produzindo um efeito paródico, irônico e reflexivo que nos conduz para o território da poesia.

A polissemia da enunciação não se esgota aqui. Foneticamente COME equivale a CUM (Goze). As leituras divergentes de “Goze no buraco” / “Goze na completude” são de uma riqueza que escapa à abordagem analítica e entra dentro do território do conhecimento poético ou, atrevo-me a dizer, do conhecimento que escapa ao conhecimento, que conhece “antes de e mais que”.

O que sempre me atraiu inelutavelmente para a obra de Marcos Chaves é esta sua extraordinária capacidade de deslocar e recontextualizar os significantes das palavras, das frases, através de deslizamentos metonímicos. O resultado poético do seu trabalho nos conduz à magia da estranheza e da descoberta de objetos artísticos que não cessam de falar.

Ruth Chindler

Imaterialidade
A Gentil Carioca