Realidade virtual (Ligia Canongia)

 

O trabalho de Marcos Chaves tem a verve do “calembour” duchampiano. Ele pretende inverter a ordem do
enunciado, alterá-lo de forma a produzir um outro sentido, inesperado, de dentro de sua própria estrutura original, como, de resto, fazem os trocadilhos: tornar o previsível, imprevisível. O “ready-made” tem sido instrumento recorrente em sua produção e possui ainda a gratuidade crítica da arte de Duchamp, com seu caráter dissociativo e irônico.

A mesa de Marcos Chaves tem o humor rápido de uma “gag” visual e no seu anticonvencionalismo vai mais à frente da esfera visual e alude diretamente ao comportamento. Sem deter-se sobre o problema do valor, quer estético ou moral, está ali, na sua aparente indiferença, tentando desviar nosso juízo, minar sorrateiramente o nosso raciocínio indutivo e suas expectativas. Ela é clara, direta e comum como todo “ready-made”, mas produz os mesmos efeitos cruéis e arrebatadores de um monstro de Goya.

The work of Marcos Chaves has the same spirit of Duchampian “Calembour”. His intention is to invert the order of the discourse and alter it in such a way as to produce another unexpected meaning from within the original structure itself as do all puns: to make the predictable, unpredictable. The “ready-made” has been a recurring instrument in his production and possesses the critical gratuitousness of the art of Duchamp, with his dissociative and ironic character. Marcos Chaves table engenders the quick humor of a visual “gag” and his anti-conventionalism goes ahead of the visual sphere and directly alludes to behavior. Without dwelling on the problem of value, whether it be aesthetic or moral, it is still there in its apparant indifference trying to divert our mind, sneaking into our inductive reasoning and its expectations. It is clear, direct and common, like all “ready-mades” but it produces the same cruel and enrapturing effects as one of Goya’s monsters.

 

Ligia Canongia